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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018



quinta-feira, 27 de dezembro de 2018




terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A Cortina


Como a cortina pode influenciar tanto o espectador? Qual a sua função? Para que ela serve? Ele tende a desaparecer neste século? Pois bem, a função da cortina – mais do que suas formas e variantes – é rica em ensinamentos para o teatrólogo. Isso prova que todos os elementos cênicos são indispensáveis para a criação teatral.
Usada de maneira sistemática pela primeira vez no teatro romano, e caindo depois em desuso na Idade Média e na época elizabetana, a cortina passou a ser, com o teatro do Renascimento e da era clássica, uma marca obrigatória da teatralidade. É preciso esperar até o século XVIII para que seja fechada durante o espetáculo, ao final de cada ato. Hoje, serve, muitas vezes, como marca de citação e ironia da teatralidade, estando às vezes no meio da cena, como afirma Patrice Pavis.
É sabido que a cortina serve para ocultar, ainda que temporariamente, o cenário ou o palco; logo, serve para facilitar as manipulações dos contrarregras e maquinistas, num teatro que se baseia na ilusão, no qual não se pode revelar os bastidores da ação.
Todavia, a cortina é o signo material da separação entre palco e plateia, a barreira entre o que é olhado e quem o olha, a fronteira entre o que é semiotizável (pode tornar-se signo) e o que não o é (o público). Como a pálpebra para o olho, a cortina protege o palco do olhar; introduz, por sua abertura, no mundo oculto, o qual se compõe ao mesmo tempo do que é concretamente visível na cena e do que pode ser imaginado, nos bastidores, com os “olhos do espírito”, como diz Hamlet, e portanto numa outra cena (a da fantasia). Toda cortina se abre, assim, para uma segunda cortina, que é ainda mais “inabrível” (inconfessável) por ser invisível, se não como limite dos bastidores, como fronteira para o extracênico, logo, para a “outra cena”.
Através de sua presença, a cortina fala da própria ausência, ausência esta constitutiva de todo desejo e de toda representação (teatral ou não).  A cortina convoca e revoga o teatro, faz-se denegação: mostra o que esconde, é um “larvatus prodeo”, excita a curiosidade e o desejo do desvendamento. Daí, o prazer de ver a cortina se abrir e, depois, fechar-se lentamente, pontuando o espetáculo, traçando-lhes limites, “ensanduichando” o mundo teatral: “Certos teóricos, sem dúvida exagerados, afirmam que, no teatro, os espetáculos só acontecem para justificar os movimentos da cortina. Dormem durante a peça e deleitam-se quando a cortina se abre antes do espetáculo e quando se fecha ao final”, afirmou G. Lascaut no Diário do Teatro Nacional de Chaillot, em dezembro de 1982.
A cortina para Brecht era como uma guilhotina. Ele até propôs a abolição do que chamou de “instrumento perigoso”. Apesar da cortina evocar sempre uma alternância entre fala e silêncio, no teatro, uma cortina pode esconder outra.

Fonte: http://teatrototalilheus.blogspot.com.br/p/cortina.html

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